Adorava estar errado. Até qualquer dia

Hoje morri mais um pouco. O Sporting, o meu Sporting, o meu clube, fez-me sangrar bem fundo, lá mesmo no íntimo, onde as coisas mais doem.

Eu sei que aparentemente é só futebol, mas esta merda dói muito. Porque é que as coisas teimam em correr mal? Hoje até estava a ser um belo jogo dos nossos e, de repente, tudo muda, tudo se desorienta, tudo se desmorona.

Ontem um clube gerido por mafiosos atingiu a glória. Hoje, um clube de princípios, embora gerido por incompetentes, deu mais um passo para o abismo. É assim o futebol , implacável. O que conta são mesmo os resultados e esses teimam em não nos serem favoráveis.

Não há vitória morais, nem os jogos recomeçam como eu muitas vezes desejei. Nós somos o elo mais fraco. Nós teimamos em estar do lado errado da história.

O problema é que esta merda reflecte-se na minha maneira de ser e de estar. Neste momento sinto-me insignificante, totalmente destroçado, como se não fizesse sentido o amanhã. Tento disfarçar junto de quem mais amo, mas é difícil.

E o que mais custa é imaginar que os meus filhos podem seguir o caminho mais fácil, o caminho das vitórias. Não importa como, quando e porquê uns começaram a ganhar tudo e outros a não ganhar nada. Isso é história. Já nem dá para explicar. Eles querem é viver o presente, dizer lá na escola que o clube deles ganha mais do que o dos outros. E esse clube não é o Sporting.

Hoje vou-me deitar deprimido. Não porque hoje não ganhamos. Começa a ser habitual... A minha depressão é bem mais profunda. É que olho para o futuro e vejo este clube, o clube que o meu pai me ensinou a adorar, a morrer. E a morte dele é também um grande passo para a minha morte, pois muita coisa deixa de fazer sentido sem o Sporting.

E custa ainda mais imaginar que provavelmente morrerei só, que os meus, os que me seguirão, estarão noutra, "o velhote tinha uma pancada do caraças, gostava do Sporting...". Pois tinha. Era inscritível. Era puro. Era amor.

Adorava estar errado. Adorava que eles herdassem esta pancada. Adorava celebrar um título abraçado a eles. Como eu adorava...